“Vou comer aqui mesmo, rapidinho, para voltar logo ao trabalho”
Quem nunca menosprezou a hora de almoço que atire a primeira pedra. Mas, essa correria do dia a dia, sobretudo na hora do almoço, está longe de ser o ideal. Parar o trabalho ou o estudo e realmente ter um momento para a refeição é importante para a saúde.
Primeiro, porque essa pausa é imprescindível para perceber os sinais de fome e saciedade, de acordo com Cinthia Karla Rodrigues Do Monte Guedes, professora do DNUT (Departamento de Nutrição) da UFPB (Universidade Federal da Paraíba). Parar de fazer qualquer outra coisa e prestar atenção na comida é essencial para uma escolha mais saudável dos alimentos e montagem do prato.
A ideia é realmente sentir o sabor do alimento e mastigar com calma, para que assim o mecanismo fisiológico ocorra da forma correta. De acordo com Ana Kátia Moura Lopes, nutricionista e chefe da Nutrição Clínica do Hospital Universitário Walter Cantídio (CE), o cérebro demora cerca de 16 minutos para concluir que você se alimentou. O hormônio colecistocinina é um modulador da ingestão alimentar e, quando comemos, seu nível aumenta rapidamente com um pico de 15 minutos após a refeição. Por isso, devemos comer devagar e com atenção, para dar tempo de o hormônio avisar ao cérebro que o corpo está saciado.
“Têm pessoas que almoçam em 10 minutos, então ela acabou de almoçar e o cérebro não entendeu o comando. Por isso, dali meia hora vem a fome novamente”, exemplifica Lopes, lembrando que é preciso saber diferenciar a fome e a vontade de comer, que são comumente confundidas. De acordo com a recomendação do Guia Alimentar Para a População Brasileira, é importante falar também da comensalidade, que é a prática de ter companhia na mesa, ou seja, interação social com familiares, amigos ou colegas de trabalho. “O que se come é tão importante quanto com quem se come, afinal, a alimentação é um ato social de integração e uma grande fonte de prazer. Alimentar-se em (boa) companhia faz bem.
“Além disso, é um momento para descansar, levantar-se da cadeira, melhorar a postura e circulação do corpo, diminuindo o estresse ou a ansiedade”, diz Débora Palos, nutricionista da Clínica Maria Fernanda Barca e do Hospital 9 de Julho.
O que não deveria ser feito durante a refeição?
Usar o celular, sem dúvida, é um dos piores malefícios durante a refeição, já que essa distração impede o processo de atenção plena (mindfulness) para o comer consciente (mindfull eating). O mesmo vale para assistir à televisão, mexer no computador ou usar qualquer outro eletrônico.
Um estudo publicado em maio deste ano, avaliou a percepção e a ingestão de alimentos de pessoas que comiam enquanto assistiam a outras pessoas se alimentando. O resultado não foi apenas o aumento da quantidade ingerida, mas houve também alteração na percepção do sabor dos alimentos.
As consequências de comer correndo podem ser elencadas em curto e longo prazo. Em curto prazo, pode haver um consumo de vitaminas e minerais em quantidade insuficiente para um bom funcionamento do corpo, a mastigação inadequada e, consequentemente, uma má digestão.
“Em longo prazo, as consequências podem ser mais drásticas, como a desregulação da percepção de fome e saciedade, podendo levar a compulsões alimentares, sobrepeso e à obesidade”, descreve a professora de nutrição da UFPB. Isso ocorre devido ao desaceleramento do metabolismo, visto que o acúmulo passa a ser mais de massa gorda em detrimento da massa magra. Outro estudo, publicado na International Journal of Environmental Research and Public Health, avaliou as escolhas alimentares de mais de 6 mil alunos, com idade entre 11 e 16 anos, além de 289 professores no País de Gales. Os especialistas concluíram que pausas mais curtas para o almoço estão associadas a escolhas de alimentos menos saudáveis.
Fonte: https://www.uol.com.br/
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